“No início do século XX, o pintor – e filósofo – suprematista Kasimir Mlaevitch ressaltou muito bem o fato de que não há consciência humana que não se fundamente no exercício estruturador da Representação. É preciso representar(-se) as coisas para que haja uma realidade para mim. Sem o exercício de formatação objetivante e de gestão da realidade que a Representação realiza não há humanidade possível. A lição que se depreende de muitos textos de Malevitch é que o homem é fundamentalmente Representação e que, na verdade, ela funda aquilo que ele chama de “cultura figurativa”. Representação é a figuração mental e categorial da realidade que produzimos para poder lidar com ela, para filtrar o enigma do mundo e distribuir seu tremendo peso em andaimes que sejam proporcionais a nosso entendimento e resultem de nossa faculdade vrdadeiramnte existencial de equilibrar os dados proliferantes que ameaçam nosso equilíbrio. A Representação como andaime significa a figuração ou a produção das figuras necessariamente identificáveis e reconhecíveis que, como filtro ou crivo, constituem  uma mediação entre nós e um mundo abissal.”

Stéphane Huchet

Do ver ao mostrar, representação e corpus da arte

“Na obra medieval as figuras fora do corpo do texto nas margens dos manuscritos ilustrados, ou em cornijas, capitéis e pedestais, frequentemente são figuras mais realistas que as figuras principais. Isso é algo surpreendente, uma vez que esperaríamos encontrar as formas mais avançadas no conteúdo dominante. Porém, na arte medieval, o escultor ou pintor é muitas vezes mais ousado lpa onde ele está menos sujeito a exigências exteriores; ele até mesmo busca e se apropria das regiões de liberdade. […] A execucação das paisagens de fundo por trás das figuras religiosas nas pinturas do século XV às vezes é surpreendentemente moderna e está em grande contraste com as formas precisas das figuras maiores. Tais observações nos ensinam a importância de levar em conta na descrição e explicação de um estilo o aspecto não-homogêneo, instável, as tendências obscuras rumo a novas formas”. Schapiro, Style

ornans

O enterro em Ornans

“…a história do homem é como a história natural e assume um caráter atemporal e anônimo […] Dessa forma, a consciência de comunidade despertada pela revolução de 1848 aparece pela primeira vez numa pintura monumental e com toda sua riqueza de alusões, já de modo retrospectivo e inerte” Schapiro, Courbet and Popular Imagery

eu durmo comigo
Angélica Freitas

eu durmo comigo/ deitada de bruços eu durmo comigo/ virada pra direita eu durmo comigo/ eu durmo comigo abraçada comigo/ não há noite tão longa em que não durma comigo/ como um trovador agarrado ao alaúde eu durmo comigo/ eu durmo comigo debaixo da noite estrelada/ eu durmo comigo enquanto os outros fazem aniversário/ eu durmo comigo às vezes de óculos/ e mesmo no escuro sei que estou dormindo comigo/ e quem quiser dormir comigo vai ter que dormir ao lado